Eu vejo uma clara certeza do foco,
Quando me formo em forma,
Quando o espelho é a minha luz.

Quem sou eu na penumbra e claridade?
Sou eu...

Que me crio com tudo.
Salvo os contrastes.
Em todo foco eu vejo uma luz.

(fade in. Juiz de Fora - MG - julho/2011)

Eu sempre encontro, num susto, a minha selva. E de hora em hora vou correndo meu perigo. Vendo corpos entroncados. Vendo fragilidade nas formas. Fingindo a ignorância. Encontrando eu lá. Mas sabe? Isso pra mim é mentira! Tem sorriso na força, tem abraço num choro, tem carinho num grito. Eu acredito no bem de raiz. Daí vem o meu perigo: eu vejo nas costas do outro o meu recado. Assim finjo que eu não estou nele. E ele finge que não está em mim. E a gente vive nossa vontade por um mistério com fim, uma peça de amor e de medo.  

Eu quero confessar que eu tenho vergonha. Esta natureza bruta, tão humana, não é a natureza dos instintos. 

É a dos extintos humanos.

(o fim. - Juiz de Fora - MG - abril/2011)

Eu sou sem ver
A parte forte da parte fraca,
Um lado a mais
Ou a menos de tudo.

A realidade de uma boa ficção.

Uma inevitável impaciência por mais.
Uma forçada certeza de menos.
A violência de não ter tão pouco tudo nem muito nada.

Só ter
A vontade de só ser.

Deus, você está certo.
A minha alma é mesmo minha.

(acho graça no excesso de dimensões - Juiz de Fora - MG - abril/2011)

Eu sei que quando eu não sei,
acontece.

Quando eu sei,
acontece.

Quando eu quero e não quero,
acontece.

Deus!
Acabo sempre voando por firmar tanto meus pés num chão que não tem lugar.

Acontece.

(santíssima dúvida além de mim. Orla Malecon - Havana - Cuba - maio/09) 

alguma coisa na minha mão tocava pra frente as andanças,
e eu lá pedalando, vendo tudo.

a sensação é que a direção vinha quando eu via.
e o caminho ia ficando grande... me via.

Quando alguém ruma as direções certas,
pra quê o caminho?

acredite! minha bicicleta me criava só de vento...

(o bem que fazem histórias que fazem bem. Mariana-MG. jun/10)

Tem alguma coisa não vista
Alguma coisa não dita
Não ouvida entre os homens e mulheres.

Uma ciência com base no mistério do ato.

Um estudo profundo do sorriso,
Leituras atentas do abraço,
Escuta apurada do coração.

A escola da paz no tempo.
A ciência do ato no espaço.

A paz e a ciência unidas em nós.
O sabor de um fruto doce das nuvens.

A Pazciência do espírito.

(por um pouco mais de paciência humana - Museo del Carnaval - Santiago de Cuba - maio/2009)

Que as forças se unam no mistério do outro
Tamanha jornada sem tempo nem espaço
Onde o nada preenche tudo.

O outro eu do outro lado do eu.

Tenho alguma coisa que me cala com palavras.

(falo silêncio - Barca na Ilha de Caio Gramma, Cuba - maio/09)

Assim, o jovem Humano senta numa pedra e olha para o céu:

- Deus, como é possível que eu seja feito espírito? Se o meu desejo é ter vontade, se a minha gana é querer mais, se minha falta nunca falta, mas sempre permanece?

- Mas, Deus! Como é possível que eu seja feito de carne? Se o meu sonho é realidade, se o meu destino é o meu caminho, se o mistério inteiro sou eu?

Então a pedra virou água, e Deus disse para o jovem Humano que nadava na pedra:

- O verbo só faz carne se há espírito entre os dois. E você está molhado porque é assim que a pedra sonha.

(assim sejam - Cabo Polônio - Uruguay - jan/2010)

escutei um anjo hoje.

- Ei! Tem verdades que não são para os olhos.
- Vai virar criança quando crescer!

(a eterna visão da infância para os homens! - Colônia Del Sacramento - Uruguay - jan/2010)

Escura linda história por trás de mim
Sombras sem marcas de um caminho feito.
Eterno mistério que toma sombra na luz inteira.

Talvez você não me entenda.
O mistério não tem palavra.
Tem riscos de riscos do mal-dito!

Mal dita força da garganta!

Mal dito dito que nao diz
Mal dita palavra da boca!

A boca sozinha não tem coração,
O som isolado não tem voz,
A garganta não canta sem vontade!

Eu preciso estar lá,
Onde o coração bate
Onde a voz solta um tom
Onde o som vibra uma realidade.

Bem dito caminho de terra da verdade!
Sentidos brotam do chão

Eu sei que faço da pedra, terra!
Que eu broto com um pingo d água
Que eu faço cristal da lama suja!

O que eu digo pode não ser de tudo um som ,
Mas eu por inteiro sou assim, de terra!
Terra nascendo, viagem eterna de crianças e adultos.
Caminho longo do mistério sem voz.

O bem e mal dito silêncio, planta chuva nos céus...

(está chuvendo. Distrito de Antônio Carlos, Borda do Campo – MG, dez/2010)

Não me basta ter o que fazer com as alegrias
Se tenho planos para um choro fugido.

(uma dança que sobrou. Cuba, maio/09)

Marcas de mim na Terra
Algo de mim no céu.
Meu som no ar.

Eu busco uma dimensão.

(na estrada, em São Tomé das Letras - MG, out/2010)